terça-feira, 2 de agosto de 2016

É engraçado que, quanto mais você procura, menos você acha. É engraçado a força e proporção que as coisas podem tomar e, o quanto, de forma ou outra, os fatos conseguem acabar com você.
É como um ciclo e círculos. É como um anão de jardim enfeitando uma grama amarelada, ou como trilhos sem trens. É como se houvesse a Terra, o céu, as nuvens, a densidade e nem uma gota de chuva. E continua…
Continua por aí. Perdido. Fingindo sanidade como se o mundo fosse o mais quieto possível, ou o mais simples possível. Simulando falsos afetos, gestos cínicos e liberdade privada. É como uma música sem voz, sem melodia, sem instrumentos e composição.
Mas para onde vamos? Mas de onde somos? E o que fazemos? Só sei que pode ser bonito.
Pode ser bonito o jeito que tu enxergas, pode ser fiel a maneira que tu faz, pode ser único o toque que tu tens e verdadeiro a atitude que tu tomas. Pode ser excepcional no mundo. Pode ser o suficiente e simples.
O vazio pode se encher. De lágrimas, de risadas, de conversas, de barulho, de burburinho ou o que estiver a disposição. O vazio pode, de forma ou outra, se encher de vida.
Depende de quem vê, depende de quem sente, depende de quem o torna, depende de como é.
Depende de você.


terça-feira, 5 de maio de 2015

Besteira

É como se nem tudo pudesse ser dito, escrito ou demonstrado. Como se ficasse sempre esse nó na garganta, formando ondulações difíceis de ser consertadas, fazendo com o que a saliva nunca desça.
É como se o vento da madrugada me fizesse pensar e repensar em tudo o que eu sou e no que eu deveria ser - aliás, não só vento da madrugada. É o frio que me engole, o calor que me dissolve, a brisa que me envolve.
Não sei ser sã, muito menos ser impura. Não sei agir, nem mostrar, nem coagir, nem buscar. Aquela sensação estranha de que tudo está dando certo mas, no finalzinho, VRUM! Tudo desmorona; assim, sem mais nem menos, sem vírgula, sem acento, sem ponto final. Não resta um chapéuzinho para cobrir a cabeça do ó, e nem uma cobrinha para dançar em cima do á.
E o quanto a gente vive sem reclamar? E o quanto a gente vive a apreciar? E o quanto a gente quer vivenciar? Rude, má, ríspida. O que mais pode completar o incompleto? O que mais pode ser feito para ser perfeito? Ninguém compreende e nunca irá compreender. No fim, vai ser só aquela coisinha de menininha inventando algo para reclamar.
O nó vai se desfazer, a pressa vai acabar, o sonho vai passar, o ser vai ser, o quê não terá porque e a imagem vai se desfazer. Assim, feito nuvem e vento. Se desfaz. Sempre se vai. Sempre cai. Cai a chuva, cai a temperatura,  cai o valor. Só não cai a ficha. A ficha que nem precisou ser comprada, as comparações que nunca foram implantadas, a guerra que nunca houve batalha e a aventura que nunca começou.
Nós se desatam. Nós se atam. Nós que nunca iniciaram.

domingo, 12 de abril de 2015

J3

É quando teu corpo vibra quando toca o outro, quando teu sono te eleva quando ao lado da pessoa, é quando tua mente acelera quando fica por perto. É a vontade de conhecer mais, de estar mais, de viver mais, de beijar mais e de gostar mais.
É quando o gosto de cerveja fica gostoso, quando o de menos vira de mais, quando o cabelo permanece bagunçado e o cheiro fica trocado. É quando os pelos arrepiam, quando o abraço vira casa, quando o peito vira travesseiro e a respiração confunde.
É quando você deseja que o tempo nunca passe, quando a mão fica procurando a outra, quando a cama de solteiro vira de casal, e quando a mesma fica minúscula com um só corpo nela. É quando o fôlego falta e não mata, quando o sono fica sem nenhuma importância, quando os ponteiros giram mais rápido e o sol fica inútil para indicar horários. É quando as pernas aconchegam, quando os braços dão nós e o olhar fica tímido.
É quando a voz se perde, quando o escuro fica claro, quando o vento não dá rinite, e aplicativos sociais viram os melhores cúpidos que já se existiu. É quando as músicas de forró ficam ótimas para se ouvir, quando chocolate entra na dieta, quando a saudade vira rotina e fotos viram refúgio. É quando o tempo oscila entre passar rápido e devagar, quando um colar representa todo um sentimento,  e o sorriso permanece durante 24 horas.
É quando não cabe mais dentro de si e há a necessidade de pôr para fora, há a necessidade de escrever, de esclarecer.
É o que me completa e me faz feliz. É o que tem em mim para você.

domingo, 8 de março de 2015

E que hoje, dia 8 de março, as mulheres não sejam lembradas apenas pelo superficial - e nem em nenhum outro dia.
Que hoje, possamos comemorar o valor interno que temos, possamos comemorar nossas vitórias, nossos direitos e nossa força interior. Que hoje não seja lembrado apenas dos padrões estéticos, a vaidade rotineira e o clichê de "é a mulher que embeleza o mundo" - sim, nós embelezamos, mas nosso valor para o mundo é muito maior do que a vaidade.
Que hoje nossa vontade de quebrar preconceitos seja ainda maior, que nossa garra pelo êxito final não diminua, que a nossos punhos estejam firmes e erguidos, e que a nossa sensibilidade não nos abale diante de um mundo vasto de males.
Que hoje, a nossa vontade seja que o dia 8 de março não exista mais para relembrar do preconceito e da desvalorização, e que todos - todos mesmo - possam passar a ver uma mulher de igual para igual: sem diminuição, sem regalias e sem desmerecimento.
Parabéns a todas as mulheres que não desistem de lutar. Feliz 8 de março!

domingo, 4 de janeiro de 2015

J

E eu jurei nunca ter visto ele. Não daquela forma. Parecia que tudo, naquela hora, caia bem.
Podia ser um chão duro, um sofá pequeno, uma sala quente, uma dispensa sem comida ou, até mesmo, uma mente vazia. Não tinha nem o que pensar, falar, buscar, agir. Aquele cabelo bagunçado que eu mesma o tinha feito, aquela cor de pele vermelha que eu mesma tinha marcado, aquele pedaço de carne roxo, aquela camisa esticada e mordidas planejadas. E de que mundo você veio? Por qual porta você entrou? Da onde foi que você brotou, que eu não vi?
Sorriso largo que quase não existe pedaço de mim para ver, mãos longas que buscam cada parte de mim para pegar, braços que se ajustam conforme meu corpo se inclina e boca que alucina a cada toque que faz sob minha pele. E estávamos ali, quase nus do mundo - e ainda assim vestidos, transformando cada canto em um encanto, vendo cada detalhe semear cada imaginação. Cada toque gritante e olhar penetrante, cada vírgula mal colocada e fim de frase sem estar pontuada, cada sofá-vira-cama e cama-vira-ringue-de-boxe.
E você mal tinha chegado para mim. E você mal chegou para mim. E você mal veio para mim. Se eu tirar a bateria do relógio, o tempo pára só para nós ou pro mundo inteiro? Vai. Me diz qual a fórmula, qual o teorema, qual o livro, qual o segredo que eu tenho que saber para me aproximar um pouquinho mais de você. Me diz qual caminho pegar, qual música escutar, qual bilhete escrever, qual vagão pichar e qual beco esconder. Qual a bebida, qual a cidade, qual a série, qual a velocidade, qual o filme? Qual é o jeito mais rápido de chegar até você?

sábado, 4 de outubro de 2014

Ela, mais uma vez.

A saudade sempre me aperta e sempre dá um jeito de me achar. Seja na calada da noite, seja na felicidade do dia.
E é assim mesmo, quando menos se espera, quando menos se vê e menos explícito fica. Vem devagarinho, mas com força. Não importa a intensidade, o jeito, a forma e a direção, uma hora a saudade vem. Vem e aperta tudo que tem em você. Vem e desperta tudo o que você viveu e conviveu. Vem e te arranca as melhores coisas em um milésimo de segundo.
Eu vivo de saudade. A partir do momento que vejo um sorriso e logo depois se apaga, a saudade atinge e começa. Brusca e direta. Ela maltrata mesmo, pior que arma. A saudade aparece nos abraços, nos olhos, nas conversas e nos sonhos; na música, na melodia, nas vozes e nas composições; no café da manhã, no almoço e na janta - até mesmo nos lanches corridos da tarde - no cremozinho que para de existir, nas palestras que dá sono, nas atividades que cansam, nos metros que percorremos pra comer e se reunir, nas fotos sem poses, na piscina infantil que se tornou adulta, no parquinho de madrugada, nas mesinhas no meio da grama, no "é tois" que perambula na cabeça, nas culturas que conhecemos, nos sotaques que aprendemos, nos chapéus voando, no matte da Argentina, na rapadura do Rio Grande do Norte, nos bombons do Rio de Janeiro, nas pessoas do Brasil inteiro concentrado em um só local e na vontade de vivenciar tudo como se fosse um único dia. E claro que é a saudade. O passeio pela praia, acordar às 7 e ir dormir uma da manhã, se colorir para uma festa, andar atrás de um paredão como se fosse trio elétrico, se fantasiar e soltar a criatividade, beijar e ter aquele "sentirei falta disso", ser criança mas ser maduro, entender o que tá acontecendo, aprender a ser amigo, conviver com desconhecidos, dividir sua intimidade com quem você nunca viu e a vontade de "saber mais" ser despertada. Ter um par e participar de um baile de máscara em Veneza, trocar lembranças, fazer piquenique, lavar roupa, chorar e sorrir ao mesmo tempo, falar "muda de assunto, Staff!", agregar valores, cantar um grito de guerra, receber medalha, representar seu Estado, fazer contato e gritar "aê" toda vez que escutar o "eu ouvi um aê?". Saudade é isso e mais um trilhão de coisas.
Deitar no conforto da própria cama, sentir o cheirinho de casa, abraçar o que ficou longe, ser recepcionada por quem era saudade e estar na zona de conforto é muito bom; mas ter uma semaninha de aprendizado e diversão é melhor ainda.
A saudade já está batendo na minha porta.

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Saudade

Eu queria tão pouco, o simples, e o de menos. Eu nunca exigi muito, e nem pressionei. Eu só queria minha paz. A nossa.
E foi assim. Éramos. Eu e você contra a maré - e olha que você nem sabe nadar, contra tudo e todos, contra o que vinha e o que deixava de vir. Eu e você nas sombras, nos vinhedos e debaixo d'agua; eu e você em cima e em baixo; sem besteiras e sem frescuras. Bastava.
Você era a fúria, eu a calma; você a guerra, eu a paz; você o lado sério, eu a palhaça; você o 'sem humor', eu a super humorada; você o chato, eu a simpática; você o tímido, eu a comunicativa; você o ciumento, eu a liberal; você o monstro, eu a coitada; você o príncipe, eu a desmiolada.
E onde ficamos? Que sinal foi esse que nos parou? Que esquina foi essa que a gente virou? Que ladeira foi essa que nos assombrou?
Cada um no seu canto, curtindo seu próprio encanto. Como se "si", bastasse. E eu sei, e você também, que não basta. Não basta sorrir sozinho, não basta tentar sozinho, não basta lutar sozinho, não basta ganhar sozinho, não basta um jantar sozinho, não basta uma dança sozinho, não basta uma vida sozinho. Só serve se for acompanhado.
E eu te acompanho, e até te ensino a nadar, se você quiser. A gente vai contra a maré, contra o vento, e fora da lei. A gente vai sem direção, sem mapa, sem bússola e sem gps. A gente vai sem carro, sem pés, sem olhos e sem membros. A gente vai pra onde tiver que ir: de cavalo, de camelo e até de joelho. A gente arranja um jeito, um feito, um lugarzinho na sombra. A gente se ajeita, se preenche e faz as malas. A gente se namora e demora. A gente enrola. Mas vai. Um dia vai.
E que saudade.