terça-feira, 16 de setembro de 2014

Saudade

Eu queria tão pouco, o simples, e o de menos. Eu nunca exigi muito, e nem pressionei. Eu só queria minha paz. A nossa.
E foi assim. Éramos. Eu e você contra a maré - e olha que você nem sabe nadar, contra tudo e todos, contra o que vinha e o que deixava de vir. Eu e você nas sombras, nos vinhedos e debaixo d'agua; eu e você em cima e em baixo; sem besteiras e sem frescuras. Bastava.
Você era a fúria, eu a calma; você a guerra, eu a paz; você o lado sério, eu a palhaça; você o 'sem humor', eu a super humorada; você o chato, eu a simpática; você o tímido, eu a comunicativa; você o ciumento, eu a liberal; você o monstro, eu a coitada; você o príncipe, eu a desmiolada.
E onde ficamos? Que sinal foi esse que nos parou? Que esquina foi essa que a gente virou? Que ladeira foi essa que nos assombrou?
Cada um no seu canto, curtindo seu próprio encanto. Como se "si", bastasse. E eu sei, e você também, que não basta. Não basta sorrir sozinho, não basta tentar sozinho, não basta lutar sozinho, não basta ganhar sozinho, não basta um jantar sozinho, não basta uma dança sozinho, não basta uma vida sozinho. Só serve se for acompanhado.
E eu te acompanho, e até te ensino a nadar, se você quiser. A gente vai contra a maré, contra o vento, e fora da lei. A gente vai sem direção, sem mapa, sem bússola e sem gps. A gente vai sem carro, sem pés, sem olhos e sem membros. A gente vai pra onde tiver que ir: de cavalo, de camelo e até de joelho. A gente arranja um jeito, um feito, um lugarzinho na sombra. A gente se ajeita, se preenche e faz as malas. A gente se namora e demora. A gente enrola. Mas vai. Um dia vai.
E que saudade.

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