domingo, 4 de janeiro de 2015

J

E eu jurei nunca ter visto ele. Não daquela forma. Parecia que tudo, naquela hora, caia bem.
Podia ser um chão duro, um sofá pequeno, uma sala quente, uma dispensa sem comida ou, até mesmo, uma mente vazia. Não tinha nem o que pensar, falar, buscar, agir. Aquele cabelo bagunçado que eu mesma o tinha feito, aquela cor de pele vermelha que eu mesma tinha marcado, aquele pedaço de carne roxo, aquela camisa esticada e mordidas planejadas. E de que mundo você veio? Por qual porta você entrou? Da onde foi que você brotou, que eu não vi?
Sorriso largo que quase não existe pedaço de mim para ver, mãos longas que buscam cada parte de mim para pegar, braços que se ajustam conforme meu corpo se inclina e boca que alucina a cada toque que faz sob minha pele. E estávamos ali, quase nus do mundo - e ainda assim vestidos, transformando cada canto em um encanto, vendo cada detalhe semear cada imaginação. Cada toque gritante e olhar penetrante, cada vírgula mal colocada e fim de frase sem estar pontuada, cada sofá-vira-cama e cama-vira-ringue-de-boxe.
E você mal tinha chegado para mim. E você mal chegou para mim. E você mal veio para mim. Se eu tirar a bateria do relógio, o tempo pára só para nós ou pro mundo inteiro? Vai. Me diz qual a fórmula, qual o teorema, qual o livro, qual o segredo que eu tenho que saber para me aproximar um pouquinho mais de você. Me diz qual caminho pegar, qual música escutar, qual bilhete escrever, qual vagão pichar e qual beco esconder. Qual a bebida, qual a cidade, qual a série, qual a velocidade, qual o filme? Qual é o jeito mais rápido de chegar até você?

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